sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Para além da vida - N. Mandela

Para alem da vida, de uma solida compleição física e de um vinculo a casa real dos tembos, a única coisa que o meu pai me deixou foi um nome, Rolihlahla. Em língua xossa, Rolihlahla quer dizer, literalmente,puxar um ramo de arvore”, mas o seu significado mais corrente e “agitador”. Não creio que os nomes marquem o destino, nem que o meu pai tenha de algum modo adivinhado o meu futuro, mas nestes últimos anos tanto os amigos como os membros da minha família tem atribuído ao meu nome as muitas tempestades que causei ou que tive de enfrentar. O meu nome inglês e cristão, bem mais conhecido, foi-me atribuído no primeiro dia de escola. Mas já me estou a adiantar. Nasci no dia 18 de Julho de 1918, em Mvezo, um minusculo lugarejo nas margens do rio Mbashe, no distrito de Umtata, a capital do Transkei. O ano em que nasci assinalou o final da Grande Guerra, o eclodir de uma epidemia de gripe que vitimou milhões de pessoas por todo o mundo e a visita de uma delegação do Congresso Nacional Africano a Conferencia de Paz de Versalhes para denunciar as injustiças sofridas pelo povo da Africa do Sul.
Mas Mvezo era um lugar a parte, um espaço ínfimo, afastado dos grandes eventos do mundo, onde a vida decorria mais ou menos como tinha sido durante centenas de anos. O Transkei esta situado mil e duzentos quilômetros a leste da Cidade do Cabo e oitocentos e vinte e cinco quilômetros a sul de Joanesburgo, entre o rio Kei e a fronteira do Natal; a norte e limitado pelas montanhas alcantiladas da cordilheira de Drakensberg e a leste pelas águas azuis do oceano Indico. É uma terra linda, de colinas ondulantes e vales férteis, sulcados por uma miríade de rios e cursos de água menores, que conservam a verdura da paisagem mesmo durante o Inverno.
O Transkei é uma das grandes divisões territoriais da Africa do Sul, com uma superfície equivalente a da Suíça e uma população de cerca de três milhões e meio de xossas, para alem de uma pequena minoria de basutos e de brancos. E a terra onde vive o povo tembo, que faz parte da grande nação xossa, a qual pertenço.
Gadla Henry Mphakanyiswa, o meu pai, era um chefe pela linhagem e pela tradição. Foi confirmado como chefe de Mvezo pelo rei da tribo tembo, mas sob o domínio britânico esta escolha teve de ser aprovada pelo Governo, representado em Mvezo pelo magistrado local. Na sua qualidade de chefe nomeado pelo Governo, o meu pai tinha direito a uma parte das taxas cobradas a comunidade para efeitos de vacinação do gado e uso das pastagens comunais. Embora a função de chefe fosse venerável e respeitada, ha setenta e cinco anos já se encontrava desacreditada por causa do controlo exercido pelo detestado governo dos brancos.
A origem da tribo tembo remonta a vinte gerações, ao rei Zwide. Segundo a tradição, o povo tembo vivia nos contrafortes das montanhas Drakensberg e no século XVI empreendeu um movimento migratório em direção a costa, onde foi absorvido pela nação xossa. Os xossas fazem parte do povo nguni, que viveu, caçou e pescou nas regiões ricas e temperadas do Sudeste da Africa do Sul, entre o grande planalto interior, a norte, e o oceano Indico, a sul, pelo menos desde o seculo xi. Os nguni podem ser classificados em dois grupos: a norte, os povos zulo e suazi, e a sul os amaBaca, os amaBomyana, os ama-Gcaleke, os amaMfengu, os amaMpodomis, os amaMpondo, os abe Soto e os abe Tembo. Todos juntos, formam a nação xossa.

Leia mais: http://www.planeta.pt/publisher/wpcontent/files_mf/1333016342UmLongoCaminhoMandela_extract.pdf

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