quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Estação da Estrada de Ferro Belém/Bragança

Inauguração: 1885

Uso atual: mercado, sem trilhos
Histórico da Linha: Em 1616, quando Francisco Caldeira Castelo Branco aportou em Belém, já lá encontrou comerciantes batavos e ingleses. Com a cidade já estabelecida, açorianos também ali se instalaram e com isso outros núcleos foram surgindo, como Souza do Caeté, a futura Bragança. Para prover o abastecimento da região, já existia a cidade de São Luiz, no Maranhão, mas as comunicações por mar, por terra e por via fluvial eram difíceis. Ao longo do caminho, formaram-se pequenos povoados, como Castanhal, Igarapé-Açu, Timboteua e Capanema. Somente no último quarto do século 19 é que o Governo Provincial resolveu-se pela construção de uma estrada de ferro na região, quando esta já tinha produção agrícola razoável, mas uma imensa dificuldade de escoamento. A ferrovia deveria ligar Belem a São Luiz. Em 1870 já havia negociações nesse sentido. Após várias demoras e desistências, a obra começou em meados de 1883. Em 24 de junho de 1884 foi inaugurado o trecho inicial até a colônia de Benevides e em 1885, a Apeú. O trecho seguinte até Jambu-Açu, a 105 km de Belém, foi completado em 1897. Até 1907, a ferrovia avançou mais 31 km e em 1908 chegou a Bragança, seu objetivo mais importante: a essa altura, São Luiz era já um sonho numa estrada que não atingia 300 km de extensão. A ferrovia, sempre deficitária, tentou-se arrendar em 1900, mas, como o desenvolvimento na região por ela percorrida compensava os prejuízos, resolveu-se por um empréstimo externo no valor de 650 mil libras esterlinas. Finalmente, em 1923, a ferrovia foi repassada para a União e o Estado tornou-se seu arrendatário até 1936. A partir daí, passou de vez para administração federal. Em 1965, em péssimas condições de operação, fechou de vez.

Acima: Ponte do Apehú, próximo à estação. (Cartão postal, data desconhecida).
A Estação: foi inaugurada como ponta de trilhos em 1885. Nessa época, com 61 quilômetros de extensão, e ainda longe de ser terminada, afastou-se o concessionário original da mesma – não foram alcançados os resultados previstos em matéria de rendimento econômico previstos no contrato, que também previa por parte do concessionário a colonização por meio de imigração – e a ferrovia passou a ser administrada pelo próprio dono, o Governo da Província do Pará, que nomeou um empreiteiro para continuar a obra. Diante do insucesso da colonização, o próprio Governo leva e instala, a 7 de setembro de 1886, 108 colonos açorianos, destinado à colônia Araripe, em Apeú. Porém, levados pelo trem até o local onde deveria ser instalada a colônia, os colonos recusam-se a desembarcar, alegando falta absoluta de providências para alojá-los condignamente. Foram levados então de volta para Belém onde se dispersaram por completo. Com isto, somente oito anos depois se instalou a primeira colônia da região bragantina, a de Benjamin Constant, que, na época, estava bem longe do final dos trilhos.
O Desenvolvimento:
O desenvolvimento do Núcleo de Castanhal começou mesmo a partir do momento em que o Governo decidiu dar início à execução do tão discutido e até mesmo desacreditado por alguns homens da Província, Projeto de construção da ferrovia que ligaria Belém e Bragança, cuja obra conforme a região passou a ser chamada de Estrada de Ferro de Bragança.
Em 1885, os trilhos chegaram à localidade de Itaqui às proximidades de Apeú, graças ao incansável trabalho desenvolvido por um dos heróis, que para essa promissora terra se deslocara como parte integrante da imigração nordestina, o coronel Antônio de Souza Leal, a quem o Governo confiara o comando de tão importante obra.
Levando-se em consideração alguns dos problemas que afetara a Província, como por exemplo, a falta de verbas, a epidemia da febre amarela que se propagava por toda a região, esta última, principalmente, fez com que o Governo suspendesse por tempo indeterminado a referida obra. Mesmo assim, sua paralisação não impediu o crescimento do núcleo, pois tanto o comércio como a sua agricultura, mesmo rude e com toda essa crise, se desenvolviam aceleradamente isto, a proporção que aumentava o número de famílias as quais se fixavam na esperança de que os trilhos chegassem a esse local ou mesmo a conclusão total da estrada. Muitas dessas famílias, é claro, se refugiaram com medo da doença que se alastrava para as demais, preferiram correr o grande risco alimentando as esperanças de dias melhores.
Vila Centenária:
O livro “Castanhal – Um pouco de sua história”, conta que Apeú (hoje Distrito de Castanhal) foi se colonizando juntamente com o que seria a sua futura sede municipal. Seu desenvolvimento começou mesmo pela metade do ano de 1883, quando se iniciou a execução do Projeto de construção da ferrovia que ligaria Belém à Bragança.

Acima: Locomotiva sendo abastecida de água na Vila do Apeú.(Acervo de Pedro Mota Filho)
Dois anos depois 1885, os trilhos chegaram na localidade de Itaqui, às proximidades do então Núcleo de Apeú, totalizando portanto 60 quilômetros. Esse trabalho, aliás, fôra comandado por um dos heróis nordestinos: o coronel Antonio de Souza Leal, que mais tarde juntamente com o tenente Alfredo Marques de Oliveira e outros, chegou a ser grande e respeitado chefe político da terra, como Intendente (cargo equivalente hoje ao de Prefeito), uma nomeação ou cargo de confiança que o Governo outorgava somente àqueles que prestavam relevantes serviços à comunidade.
A origem do Nome:
Segundo o pesquisador Luiz Fernandes, idealizador do projeto Apehú, o nome da vila pode ter muitos significados. Mas, para ele, a idéia mais aceitável é de que das águas de um rio coberto de folhagens amarelas teria surgido o nome da localidade. “Há ao longo do rio Apeú umas árvores chamadas Corticeiras. Em uma determinada época do ano elas deixam cair suas folhas no rio e ele fica igual a um tapete amarelo. Então acreditamos que esse topônimo tupi que já é registrado desde o século XVIII venha desta designação. Seria Apehú, o ‘caminho do rio amarelo’”, acredita.
Mas há quem discorde da versão. O escritor, pesquisador e memorialista José Lopes Guimarães, em seu livro “Castanhal – Um pouco de sua história”, diz que o nome Apehú (escrita original) se originalizou da seguinte forma: “aqueles que partiam do núcleo de Apeú com seus baús, ao chegarem no Núcleo Castanhal, eram logo interrogados de onde vinham e como teriam vindo. Respondiam: ‘lá da outra colônia’. A pé? ‘Sim’. ‘Hú! Como é longe’”, brinca Guimarães. Ainda segundo ele “isso foi pegando até que chegou ao ponto dos agrimensores que estavam trabalhando nos preparativos para o prosseguimento da estrada de ferro transformarem mesmo em tom de brincadeira, num nome que passou a ser levado a sério, até nossos dias”. E ainda há quem acredite que o nome Apeú veio mesmo das iniciais do nome de um antigo morador chamado Antônio Pereira Urbano, que recebia suas correspondências – via Correios -, com as iniciais A.P.U
Dúvidas à parte o distrito de Apeú acompanhou o crescimento de Castanhal e não abriu mão de peculiaridades como o banho de igarapé no final da tarde e a tradição familiar, que perdura até os tempos atuais, desde os primeiros habitantes.

(Fontes: José Maria Quadros de Alencar em Blog do Alencar: blogdoalencar.blogspot.com, janeiro de 2008; IBGE: Revista Brasileira de Geografia, julho e setembro de 1961; Guia Geral de Estradas de Ferro do Brasil, 1960; Site Estações Ferroviárias: http://www.estacoesferroviarias.com.br, abril de 2011; Site Prefeitura Municipal de Castanhal: http://www.castanhal.pa.gov.br, abril de 2011)

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