Muitas civilizações pereceram pela
incapacidade de lidar com o meio ambiente e recursos naturais, mas na
escala planetária de hoje, pode se dizer que o tema entrou na agenda
basicamente há quarenta anos. Na década de 70 surgiram os primeiros
alertas, a exemplo do “Limites do Crescimento” do Clube de Roma e da
realização da Conferência de Estocolmo.
Mas somente a partir do final da década de 80 a questão assumiu outra
dimensão: buraco na camada de ozônio, mudança do clima, perda de
biodiversidade e florestas, acidificação dos oceanos e dilapidação dos
estoques pesqueiros, enfim, o que temos visto nos jornais todos os dias.
Certamente hoje qualquer cidadão do mundo se ressente dos problemas
ambientais. Em Pequim a poluição do ar exige mudanças. Na Califórnia a
seca dramática exige medidas como racionamento de água. Em Nova Iorque,
esforços são feitos para se adaptar à mudança do clima e recuperar a
cidade dos impactos do furacão Sandy.
E no Brasil?
A população nordestina sofre os efeitos da seca prolongada, vivendo
da distribuição de água pelos caminhões pipa. Em São Paulo, além do
calor insuportável, iniciou-se, em algumas porções da região
metropolitana, o racionamento de água.
Até aqui nada de novo. Mas a reflexão que faço diz respeito a
determinar se, de fato, chegamos a um ponto no qual compreendemos a
nossa “vulnerabilidade” diante do meio ambiente. Quer dizer, se
realmente internalizamos a idéia de que não somos senhores capazes de
dominar a natureza. E se somos capazes de gerenciar adequadamente essa
nossa relação sem comprometer o presente e o futuro.
No caso do Brasil, enfrentamos há menos de uma década o grave
problema do apagão, exigindo da sociedade redução significativa no
consumo de energia, com resultados extremamente positivos. Mas o fato é
que por falta de determinação do poder público, esses esforços se
perderam no tempo e, com isso, cada um de nós voltou ao desperdício. E
este, é bom que se diga, não se justifica pelo simples fato de que
quando pagamos a conta de luz, este pagamento não contempla
necessariamente os custos de oportunidade dos investimentos públicos em
infraestrutura, bem como os impactos ambientais de maneira geral.
No caso do baixo nível dos reservatórios de água das hidrelétricas, o
país está utilizando as térmicas, que além de caras, representam
aumento de emissão de gases efeito estufa (GEE). Poderíamos estar
radicalizando a eficiência energética no país, com metas claras e
utilização de um repertório grande de medidas que viessem a torná-la
algo presente em nossas vidas. Edifícios públicos e privados com baixo
uso de energia, veículos automotores com pouco consumo, eletrodomésticos
com as melhores tecnologias, iluminação pública nas cidades com as
melhores lâmpadas…
E no caso de água, aproveitar esta crise para demandar um combate
efetivo ao desperdício. Equipamentos eficientes, arquitetura e
engenharia que induzam ao reuso de água, enfim, temos que criar uma
mentalidade que se traduza pelo entendimento de que diminuir as nossas
vulnerabilidades, como se evidencia na crise de água e de energia no
Brasil, depende de uma mudança radical no modo que consumimos os nossos
recursos naturais.
Por Fabio Feldmann .
Artigo publicado no jornal Brasil Econômico em 13 de fevereiro de 2014.
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